segunda-feira, 16 de março de 2009

ENTREVISTA: Estilista Ruy Spohr garante que o luxo está no simples!

Por Sabrina Ortácio - para Revista Conexão UniRitter
Há mais de 50 anos, um menino promissor, filho de sapateiro, crescia na Rua 5 de abril, no bairro Rio Branco, em Novo Hamburgo, com uma certeza: gostava de trabalhar com o que era belo e diferente. O garoto chegou a cursar a Escola de Belas Artes, em Porto Alegre, mas logo ficou atraído pelo mundo da moda - um escândalo na época. Sem ligar para o preconceito alheio, na década de 50, o jovem resolveu desembarcar em Paris com um objetivo: estudar moda. O hoje aclamado Rui Spohr foi o primeiro estilista brasileiro a estudar na Europa. De volta ao Brasil, virou chapeleiro, costureiro e promotor dos primeiros desfiles no Rio Grande do Sul. Com seus “mais de 70 anos” – ele não afirma a idade - continua apaixonado pela confecção de vestidos de alta costura e pela moda prêt-à-porter de luxo. Foi em seu charmoso ateliê na Rua Miguel Tostes, numa tarde chuvosa em Porto Alegre, que Rui Spohr recebeu a reportagem da revista Conexão para uma entrevista. Com a tranqüilidade de quem está contando história para os netos, Rui começou a conversa afirmando que a moda precisa ser sofisticada, original e simples. “Para virar sucesso é preciso que a moda venha ao encontro de uma necessidade”, teoriza. Conversando com Rui, aprende-se muito sobre moda. Ele faz de seu ofício algo bem menos complexo do que aparentemente a tarefa sugere.

Conexão - Você nasceu em Novo Hamburgo, uma cidade tradicional. Como a moda entrou na sua vida, naquela época?
Rui Spohr -
Com 12, 13 anos eu já sabia que queria trabalhar com o belo, com cores, flores, enfim, tudo que era bonito me atraía. Quando completei 16 anos, eu estava fazendo um curso de contador, quando parei um dia e me perguntei: onde eu poderia encontrar uma profissão para trabalhar com o belo? Fiz Belas Artes por dois anos. Cheguei a trabalhar por três no CitiBank. Mas como eu, um filho de um empresário de calçados de classe média alta, poderia surgir no final dos anos 40 querendo fazer moda? Não havia ninguém na família que tivesse se interessado por isso até então. Só muitos anos depois eu descobri que meu pai também criava em sua fábrica de calçados - era, na época, o que hoje chamamos de estilista. Também descobri depois que fui bisneto de um responsável por escolher roupas de moças para as grandes festas de Kerb realizadas em Dois Irmãos. Já estava no sangue.

Conexão - Como foi sua experiência em Paris e o que você aprendeu na França?
Rui Spohr
Em 1951, eu morava com meu irmão em Porto Alegre. Num final de tarde de verão eu disse para ele: ‘vou pedir demissão do banco e vou estudar moda em Paris’. Recebi a ajuda financeira de uma tia de muitas posses que também se interessava por moda. Resolvi seguir o conselho de meu pai, para eu nunca deixar de fazer o que achava que era o melhor para mim. Minha meta sempre foi ir mais longe, por isso eu embarquei em um navio no Rio de Janeiro com destino a Paris no dia 1º de outubro de 1952. Cheguei à Cidade Luz no dia 13, sabendo que tinha conquistado a primeira etapa da minha nova vida. Já instalado na cidade, ingressei no curso intensivo na Chambre Sindycale de La Culture Parisiènne, escola que na época preparava auxiliares para grandes casas de moda, como a Christian Dior, que tinha em média 600 empregados. Fui o primeiro brasileiro a estudar moda em Paris. Os professores ficavam muito admirados e me perguntavam como eu tinha conseguido tal façanha.

Conexão – Você foi colega de Karl Lagerfeld e Yves Saint Laurent. Chegou a conviver com eles?
Rui Spohr -
No ano seguinte em que cheguei, Saint Laurent e Lagerfeld, da Chanel, entraram na escola. Saint Laurent tinha 18 anos e Lagerfeld, 22 anos. Eu não cheguei a conviver com eles, mas lembro de suas figuras nas aulas. Eu estava lá quando ambos empataram em um concurso de vestidos confeccionados em lã, muito comentado na imprensa francesa.

Conexão – Quando e como foi sua volta para o Brasil?
Rui Spohr
Retornei no final de 1954, quando a crônica social começava a dar os primeiros passos em Porto Alegre. Chamei a atenção da sociedade. Afinal, eu era um homem jovem, relativamente bonito, que fotografava bem e falava francês. Era uma atração maravilhosa. Como eu tinha me especializado em confeccionar chapéus, comecei a produzir modelos para as mulheres da sociedade gaúcha. Mas em seguida o chapéu saiu de moda e eu tive que começar a trabalhar com costura, já em 1960, eu casado com Dóris, que era minha secretaria. Ela era filha de engenheiro, tinha noções de metragem e da importância da perfeição. Assim nós desenvolvemos um método de modelagem unindo meus conhecimentos e a garra dela. Estamos juntos até hoje.

Conexão – Quando você abriu seu próprio ateliê?
Rui Spohr –
Eu tinha um apto JK no centro de Porto Alegre. Lá abri meu primeiro ateliê, ainda para a confecção dos chapéus. Em seguida mudamos para uma casa maior, também no centro, e mais adiante para outra casa, no Moinhos de Vento. Até que compramos esta na Rua Miguel Tostes, onde meu ateliê funciona há 40 anos. No começo enfrentamos muitas dificuldades e desesperos, mas não perdemos o entusiasmo de trabalhar com coisas bonitas.

Conexão - Você era mais conhecido como Rui Costureiro. Há diferença entre ser costureiro e ser estilista?

Rui Spohr –
E olha que meu nome mesmo é Flávio. Rui é um pseudônimo que escolhi ainda aos 16 anos, quando escrevia para o Jornal NH dando dicas de moda para as mulheres da sociedade.

Conexão – Você foi contemporâneo de estilistas brasileiros de referência, como Zuzu Angel e Clodovil. Como você vê o trabalho deles?

Rui Spohr –
Zuzu foi mais um mito de que uma profissional de moda de verdade. Com o Clodovil Hernandes eu tive a oportunidade de conviver em diversas ocasiões. É uma pessoa muito talentosa, de bom gosto e inteligente. É claro que ele tem suas maneiras de se comunicar, muitas vezes polêmicas, mas este jeito sempre foi o maior sucesso. Gosto muito do trabalho dele, pena que há anos não costure mais...

Conexão – Você trabalha tanto com a alta costura como com o prêt-à-porter. Qual você prefere?

Rui Spohr –
Eu gosto muito da alta costura, mas nos últimos anos nós nos especializamos no prêt-à-porter de luxo. Hoje Rui Spohr é sinônimo de vestido de noivas, debutantes e de gala em geral. Buscamos sempre manter o estilo e a verdade da alta costura em tudo que criamos. Atualmente fazemos em média de 15 a 18 vestidos de alta costura por mês. Eu, particularmente, gosto muito de trabalhar com vestidos para mães de noivos.

Conexão – Como você vê a moda brasileira, hoje?

Rui Spohr –
A moda brasileira é muito criativa, mas ainda está muito copiada. Temos grandes profissionais, principalmente em termos de cultura e conhecimento, até porque hoje muitos têm curso de moda. Autodidata, como eu, quase não há. Os cursos de moda são interessantes porque tratam de cultura e abrem os olhos dos estudantes para o que ocorre no mundo em termos de texturas, cores, luzes, esculturas, notícias. Mas a moda brasileira ainda tem muito a crescer. Para ditarmos moda para o mundo falta muito. Só porque temos dois ou três estilistas que mostram suas coleções nas principais semanas de moda, não significa vantagem alguma. Lá também estão os estilistas argentinos, marroquinos, suecos, ingleses e por aí vai. Somos mais um.

Conexão – O que você acha das semanas de moda tipo São Paulo Fashion Week, Fashion Rio, e o nosso Donna Fashion Iguatemi?

Rui Spohr –
São muito interessantes porque nelas é possível acompanhar a evolução do que está sendo feito e uma excelente oportunidade para os novos estilistas apresentarem seus trabalhos. Tenho visto muitas criações belíssimas. Mas dificilmente se vê esta moda na rua, por mais badalados que estes eventos sejam. E, para mim, a moda só é sucesso quando ela vem ao encontro de uma necessidade. O Alexandre Herchcovitch, por exemplo, sabe fazer isso e é excelente.

Conexão – O que ainda falta à indústria da moda?

Rui Spohr –
Mão-de-obra especializada. Hoje, quem sabe costurar peças com plicê ou fazer bordados são senhoras de Terceira Idade. Corremos o risco de que este tipo de trabalho desapareça por falta de novos profissionais. Não há modelistas e, quem está atuando, cobra muito. Trata-se de um excelente mercado para ser explorado. Quem quer trabalhar com moda precisa saber algo além da informática.

Conexão
– E os cursos de moda, você tem acompanhado?
Rui Spohr –
Eu fico admirado com o número de pessoas que se formam em moda no Rio Grande do Sul. Com certeza os cursos são ótimos para uma cultura geral. Mas a moda é uma especialização constante, além da faculdade. No mercado de trabalho, quem está formado não precisa trabalhar somente como estilista, existe espaço para assessores de moda até mesmo em agências de publicidade.

Conexão – O que é preciso para ser um bom profissional de moda?

Rui Spohr –
Muita coisa. Principalmente gostar e ter muita garra. É preciso ter bom gosto, estilo e autocrítica. Eu, que já passei dos 50 anos, continuo criando. Às vezes tenho vontade de parar, mas para fazer o quê? Para os que estão fazendo curso de moda eu digo: sigam adiante, vale à pena!

Fotos: Sabrina Ortácio e divulgação Ateliê Ruy Spohr

3 comentários:

  1. Sabrina,

    demais o teu blog! Amei! Eu tenho um blog/brechó só de roupas importadas aqui em POA visite por favor www.dasmarka.com

    Um beijo,
    Schirley.

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  2. só estou começando tenho 15 anos mais queria saber como flui seus modelos ???
    bjus larissy

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  3. Entre em bru-vi.blogspot.com

    por favor por favor por favor
    e seja seguidor por favor falem para todos os seus amigos por favor por favor por favor

    bjsssssssssssss:vit

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