segunda-feira, 9 de novembro de 2009

ENTREVISTA: Bebê Baumgarten conta sua trajetória no meio cultural gaúcho

Nos bastidores de grandes shows cheios de luz e som... nos camarins dos teatros... no aeroporto... no hotel... na vernissage de uma exposição... no computador escrevendo... no pilates ou caminhando no parque... é mais ou menos assim o ritmo de Bebê Baumgarten, uma pessoa que a gente olha e vê de cara o quanto ela ama o que faz. Ficou curioso? eu também! Por isso pensei que ela não poderia ficar de fora das entrevistas que publicamos por aqui. No mercado há quase 20 anos, ela comanda a empresa BD Divulgação, e já trabalhou com grandes nomes da cultura brasileira, foi divulgadora do precursor Porto de Elis, e acreditem, até já defendeu o Marcos Palmeira do assédio da mulherada. Fora isso, trabalha com produtores, instituições, empresas privadas, entre eles o Theatro São Pedro, o Unibanco Arteplex, o Porto Alegre em Cena, o Museu do Trabalho, Os the Darma Lóvers, a Família Sarará, só para citar os atuais clientes fixos. Entre os clientes ocasionais - que são muitos, estão as peças de teatro, shows, lançamentos de CDs e DVDs, etc e tal. Nesta entrevista, ela fala de sua trajetória, revela seus hobbys e também opina sobre o mercado. Confira abaixo este bate-papo super bacana com a Bebê, uma pessoa que nunca deixa a simpatia e o bom humor de fora de sua vida:

Como você começou a trabalhar? Tudo começou quando a Dedé Ribeiro, uma super produtora e amiga pessoal, me convidou pra ser parceira de uma novidade no mercado na época: uma empresa especializada em divulgação de eventos culturais. Ela já tinha na ocasião alguns clientes bem importantes, entre eles a Opus Promoções. Começamos em um pequeno escritório na Getúlio Vargas. Nossos clientes eram as peças locais e a Opus, onde fiquei por 15 anos. Acompanhamos muitos desses artistas que hoje estão consolidados na cidade, como a Cia Stravaganza, Néstor Monasterio, Zé Adão Barboza, Antônio Villeroy, Nei Lisboa. Fomos divulgadoras de muitos espaços bacanas da cidade, entre eles o finado Porto de Elis, precursor das casas de shows porto-alegrenses. O Porto de Elis alavancou as carreiras de muitos artistas como Adriana Calcanhotto, Júpiter Maçã, Ultramen. Apresentava em seu palco o melhor da música e do teatro do RS.

Quais as lembranças que você tem dos primeiros trabalhos? Ah, lembro de muitas coisas. Lembro a dificuldade que era visitar a imprensa, às vezes mais de uma vez por semana, lotadas de releases impressos, lembrancinhas, convites, fotos. Na época o computador recém tava entrando nos escritórios e os releases ainda eram datilografados em máquinas de escrever. Não havia celular, então voltávamos para o escritório em um dia desses "de rua" e tínhamos 30 recados pra responder. Um giro. Mas lembro com saudades desses tempos. Nosso primeiro Porto Alegre em Cena, onde um mundo de novidades e prazeres entrou na minha vida. Lembro com um carinho todo especial das edições do Porto Alegre em Buenos Aires e o festival no Sul da França "Sud a Sul", para onde fomos com 40 artistas, entre músicos, cartunistas, bailarinos e atores. São experiências incríveis e amizades que ficam para toda a vida de uma maneira muito diferente. Ainda esses tempos encontrei o Ernesto Fagundes, que estava conosco nesta viagem ao Sul da França e falamos disso: sobre como é diferente uma amizade que surge nessas condições tão legais e de como elas se mantém pela vida afora. Só por isso já vale trabalhar no que se gosta.

O que mudou de lá pra cá? Tudo. O computador fez uma reviravolta na comunicações e a cada dia surge uma novidade. Se por um lado facilitou, graças à agilidade de se fazer chegar a informação, por outro perdemos - ou vamos perdendo aos poucos - o contato com as pessoas, o olho no olho, as boas conversas. Já não se visita as redações como se visitava antes. Também essa coisa do e-mail e do celular nos tornam um tanto escravizados, pois os clientes exigem mais, cobram mais, enfim, querem que estejas à disposição 24 horas por dia. Nessa hora temos que impor certos limites ou realmente viramos escravos da tecnologia.

O que é preciso para ser um bom assessor de imprensa? O básico pra mim é: infomação, cultura geral, dedicação, profissionalismo, simpatia e bom humor. Também é preciso ser tolerante, pois estamos entre o jornalista e o cliente e sempre - invariavelmente - levamos a culpa quando algo sai errado.

Por que escolheu trabalhar com comunicação e cultura? Ah, porque é tudo de bom e eu tinha essa opção né? Foi um privilégio começar minha carreira com a Dedé Ribeiro, uma baita produtora. Tive sorte e aproveitei muito essa sorte, valorizei cada coisa que aprendi.

Como você vê a situação econômica do meio cultural? Na cultura essa é uma questão bem complicada, tanto é que muitos profissionais acabam optando por outras áras porque não ganham grana trabalhando na cultura. Tudo é menor: salários e cachês. Tem que se trabalhar em dobro pra conseguir uma vida digna. O mercado de Porto Alegre é ainda mais cruel, pois não aposta em qualidade e sim em preços menores, então é sempre uma luta pra se conseguir um bom trabalho, um bom cliente.

Vários shows, peças, espetáculos em geral não chegam em Porto Alegre. O que está faltando? Produtores e empresários que não pensem unicamente em grana. Isso é o que mais falta.

O que você mais gosta no seu trabalho? Do movimento, de estar sempre com as pessoas, de assistir a 20 peças do Porto Alegre em Cena, dos grandes shows cheios de luz e som, dos bastidores, da função toda...

Que tipo de trabalho você recusaria? Qualquer um que fosse anti ecológico ou com idéias políticas totalmente contrárias à minhas.

Você se imagina trabalhando em outra área? Sim, eu poderia perfeitamente trabalhar com qualquer atividade física. Amo esportes e sempre pratiquei. Meus hobbys são esses, inclusive. Adoro fazer aulas, caminhar, correr, pilates, musculação. Adoro aventuras, trilhas, caminhadas, praias desertas, natureza, acampamentos roots.

Seu trabalho tem frequentes contatos com atores, músicos e outros "famosos". Você já enfrentou alguma situação complicada? Milhares de vezes. Uma vez fiquei toda "unhada" num show da Sandy e Jr. no Gigantinho. Outra vez quase apanhei tentando defender o Marcos Palmeira do assédio da mulherada num Festival de Gramado. Egos inflados não faltam nesse meio. Já vi piti de todos os tipos, como por exemplo uma cantora que nos fez trocar de motorista em seu carro de luxo porque o motorista havia olhado para ela no retrovisor. Artistas que tu tem a maior admiração chegam e fazem tantas estripulias, trocam tanto de quarto de hotel e são tão estrelas que acabamos perdendo muito da admiração por eles. Por outro lado há luz no fim do túnel e trabalhar com uma Fernanda Montenegro, educada, culta, doce e extremamente profissional é uma dádiva.

Quais foram as principais empresas, pessoas e eventos que você já divulgou? Olha, é muita gente. Tenho um carinho todo especial com os artistas que vêm ao Porto Alegre em Cena. É um imenso privilégio divulgar uma peça como a da Arianne Mnouchkine, por exemplo. Nesta peça, que esteve no Em Cena de 2007, estava a Juliana carneiro da Cunha, uma atriz maravilhosa com quem tive o prazer de trabalhar e que, anos antes, havia atuado com o Marco Nanini na "Morte do caixeiro viajante". Com a Opus também tive bons momentos. Lembro das atrações que o Geraldo Lopes pautava para Porto Alegre, sempre com bom gosto. E sem falar na cena local, onde tenho muitos amigos com quem amo trabalhar.

Qual seu sonho profissional? Venho realizando meus sonhos profissionais. Procuro não ter um sonho imenso, incapaz de se realizar. Faço pequenos planos e realizo um a um, devagar e sempre. Tenho muita vontade de trabalhar em São Paulo. Quam sabe num futuro próximo...

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