quarta-feira, 23 de março de 2011

CULTURA: Fita Tape apresenta Palimpsesto de Rodrigo Pecci

Palimpsesto, do grego antigo palimpsestos, ou seja, "riscar/gravar de novo", é um papiro em que o texto original foi removido para ser reutilizado. Tratava-se de uma prática frequente entre os séculos VI e XII, devido à escassez de papiro, que criou sobreposições de textos de diversas civilizações. Essas escrituras acumuladas são visíveis hoje graças a sofisticadas técnicas de restauração. Já no campo de estudos da Semiótica, o termo palimpsesto passou a ser utilizado para designar toda obra derivada de uma obra anterior, um texto que possui outro texto por baixo. A exposição individual do artista gaúcho Rodrigo Pecci na galeria Fita Tape sugere uma associação despretensiosa com a idéia de palimpsesto, remetendo a sobreposição de significados e a conexão com outros tempos, não tão remotos. Tendo como ponto de partida a técnica de gravura em metal e suas variáveis, Pecci criou um vocabulário visual riscando, cobrindo, limpando e sujando seus papiros contemporâneos. O nome absurdo e quase impronunciável Polipalimpsesto, então, aponta para a recente produção do artista sobre chapas de poliestireno, originalmente usadas como matrizes para suas gravuras, trabalhos esses que sustentam a nova exposição. A matriz suja, usada e marcada, ao invés de ir para o lixo recebe novas interferências com diversos tipos de tintas e ponta seca, sendo transformada em uma obra original. Uma lógica de acordo com a trajetória de Pecci na subversão da gravura, com suas obras múltiplas únicas e outros resultados de uma clara disposição para transgredir. A exposição também incorpora objetos de seu atelier e outros elementos relacionados ao seu estilo de vida, buscando ampliar a percepção das obras. Outsider por natureza, Rodrigo Pecci aprecia a experimentação com técnicas quase obsoletas, segue trabalhando com mestres de outras gerações e, não por acaso, nas horas vagas garimpa LPs nas lojas de discos de Porto Alegre em busca de sons gravados em sulcos de vinil. Quanto a sua formação, desde os 10 anos de idade, já pintava em Passo Fundo, onde viveu com a família, mas foi a partir de cursos de gravura em metal com Wilson Cavalcanti e Maria Tomaselli que aperfeiçoou a técnica. Trabalhou como impressor na Fundação Iberê Camargo sob orientação de Eduardo Haesbaert e, em 2002, com 26 anos, se tornou professor e impressor de gravura em metal no Museu do Trabalho, em Porto Alegre. Segundo o curador e galerista Lucas Ribeiro, Esse é mais um dos artistas fascinantes que conheci através do Museu do Trabalho. Sempre via ele recluso no atelier de gravura em metal, trabalhando, geralmente usando camisetas de bandas legais. O Rodrigo canaliza um fluxo expressivo intenso, anterior a ele, talvez mais relacionado à pintura, fazendo esse fluxo avançar para novos territórios através de uma personalidade singular e experimentações com gravura. De certa forma, seguir na contramão parece a melhor direção para Rodrigo Pecci, pois ele recebeu o III Prêmio Açorianos de Artes Plásticas (Destaque em Gravura 2008) e, no ano passado, lançou o livro Rodrigo Pecci - Desenhos, pela Coleção Gafanhoto, além de participar de exposições e projetos cada vez mais relevantes no cenário nacional. A exposição Polipalimpsesto busca pontuar essa trajetória chamando atenção para o processo criativo de Pecci, com toda arte contida na subversão de uma técnica.
SERVIÇO
Poilipalimpsesto
Rodrigo Pecci na Fita Tape
de 22 de março a 1° de maio de 2011
de quarta a domingo
das 13h30 às 18h
Galeria de arte Fita Tape
Rua José Bonifácio, 485
Porto Alegre - RS
tel (51) 3028 1217
www.fitatape.art.br
apoios: BD Divulgação, Restaurante Boris, Liga e Nieto Molduras

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